Campeão pelo SPFC, Tiago Ribeiro conta como venceu a depressão

Thiago Ribeiro Cardoso tem um currículo no futebol de fazer inveja. Campeão mundial pelo São Paulo em 2005, o atacante foi artilheiro da Conmebol Libertadores pelo Cruzeiro, ergueu taça pelo rival Atlético-MG e teve a missão de ajudar Gabigol após Neymar deixar o Santos.

Prestes a completar 38 anos, ele comemora a maior vitória da sua vida. E ela não está ligada ao esporte: o fim da depressão após quase oito anos convivendo com a doença.

– O que me motiva a continuar jogando é o prazer, a paixão e o amor pelo futebol. Continuo com a mesma alegria de quando comecei, fisicamente me sinto bem e com quase 38 anos ainda consigo performar, com força, velocidade e jogar com a intensidade que exigem hoje.

– Isso me faz entender que enquanto tiver essa alegria e ânimo, vou continuar jogando. Se chegar com 40, 41 anos ainda bem, vou seguir. O dia que sentir o meu corpo dando sinais de perda de intensidade, lesões… vou deixar o meu corpo dizer até quando eu posso jogar – disse Thiago Ribeiro ao GE.

Revelado em 2004 pelo Rio Branco, de Americana, Thiago Ribeirou deixou o interior paulista direto para o futebol europeu. Foram poucos jogos e uma passagem curta no Bordeaux, da França, até retornar ao Brasil para defender o São Paulo.

Nos dois primeiros anos no Morumbi, foi campeão mundial (2005) e brasileiro (2006).

Mas a maior disputa de toda a sua vida começou no fim de 2014. Vivendo bom momento no Santos, Thiago Ribeiro perdeu o prazer de treinar, jogar futebol e viver: o jogador foi diagnosticado com depressão. Negacionista no início, aos poucos aceitou que precisava de apoio psicológico e tratamento médico especializado para se recuperar.

– Essa foi a partida mais difícil que joguei, não digo na carreira, mas na vida. Essa depressão e opressão que passei na minha carreira não me afetou apenas no lado profissional, me atrapalhou em todas as áreas da minha vida.

– Isso me afetou muito profissionalmente, sempre fui um jogador de explosão, velocidade, muito resistente. Sempre que voltávamos de férias naqueles testes físicos os meus sempre foram muito bons. Depois que passei por esse problema, afetou minha velocidade, resistência, foco e concentração.

– Perdi bastante peso nesse período, fiquei muito magro e você fica sujeito a lesões. A gente tenta tirar o lado bom até dos momentos difíceis que passa. Coloquei minha fé em Deus acima de tudo, busquei tratamento psicológico, com psiquiatra, entrei com medicação por praticamente quase um ano fazendo tratamento.

Mesmo doente, Thiago Ribeiro seguiu a carreira como pôde. Caindo de rendimento ano a ano e sofrendo para manter a forma física – sem se alimentar direito -, o jogador rodou por oito clubes diferentes em oito temporadas até vencer a depressão.

– Na época eu fui muito amparado pelos clubes, o Santos principalmente. Depois passei pelo Atlético-MG, Bahia e depois retornei ao Santos. Eu só falava o básico, não me abria muito sobre como estava. Eu tinha receio de as pessoas não entenderem, pensarem que estava de má vontade. Não é algo tão superficial para resolver, muitas vezes você jogando em alto nível, recebendo um bom salário e não entendem como pode estar tendo problema, não treinar um dia, não jogar, ficar afastado.

– Não é algo tão simples de lidar. Nunca me abri 100% para falar por não me sentir à vontade. Muitas vezes o jogador não se sente à vontade para se abrir e colocar o que pensa sobre a depressão, muito por não saber a reação. Percebo que hoje existe uma preocupação maior, mas ainda não é uma coisa fácil de lidar.

– Em 2022 foi quando comecei a sentir o Thiago de volta, foram oito anos de luta. Foram três, quatro anos complicados…

Fonte: GE