De boina e bigode, Gabriel Neves foge do perfil boleiro no SPFC

Em meio aos fones chamativos, grandes correntes e joias brilhantes comuns à moda boleira, Gabriel Neves surge nos corredores do Morumbi usando boina e com o bigode impecável, como se tivesse saído de um filme daqueles clássicos, do século passado. A cena vista na última quarta-feira antecedeu uma noite especial e que simboliza o perfil diferente do camisa 20 do São Paulo.

É praticamente unânime nas conversas com pessoas ligadas a Gabriel Neves associá-lo a um comportamento ímpar de jogador. A elegância com a bola nos pés e a inteligência em campo, inclusive ressaltadas por Dorival Júnior, são exibidas fora das quatro linhas, mas com discrição.

Gabriel Neves vai a parques, cafés e “rolês” de skate nas horas livres. Quando possui uma pequena brecha de calendário, o meio-campista parte com familiares e amigos próximos para praias do litoral norte paulista. Situações mais comuns perto do glamour que cerca o futebol.

O perfil “buena onda”, traduzido livremente para “o cara gente boa”, é testemunhado em um ciclo fechado. Gabriel é avesso às entrevistas. Conta-se nos dedos quantas vezes se comunicou com a torcida via imprensa, na saída de jogos ou em exclusivas.

O trato com o torcedor é direto, como o registro abaixo com o garotinho que recebeu autógrafo na chegada do elenco ao Morumbi antes da vitória sobre o Athletico-PR.

Mal sabia, tanto o pequeno torcedor quanto o próprio Gabriel Neves, que a partida terminaria marcada pelo primeiro gol do uruguaio com a camisa são-paulina.

Gabriel Neves é nascido em Maldonado, cidade litorânea localizada perto de Punta del Este, no Uruguai. A proximidade da praia tornou o pé na areia algo comum desde a infância.

Isma, o irmão mais velho, surfa, e o volante são-paulino gosta de acompanhá-lo nas idas a praias como Maresias, um dos locais preferidos de Gabriel no Brasil. Devido à profissão, não se arrisca sobre a prancha.

Outra paixão dos esportes se encontra no skate. Cafés com pistas são um ambiente preferencial para momentos de lazer na capital, quando não pode descer a Serra do Mar.

– Quando não treina, ele gosta de ver gente surfando, de skate. Nunca andou, pois tem medo de se lesionar, mas gosta muito, muito – contou Gero Perdomo, 19 anos, primo de Gabriel Neves e estudante de economia e negócios internacionais.

Gero é como um irmão mais novo e fala com admiração sobre o parente famoso. Em momentos de folga vem ao Brasil para acompanhar Gabi em algumas andanças pela capital paulista, seja em parques ou atrações turísticas.

– Há uma brincadeira de que ele gosta de ir a parques e brincam que, por ser uruguaio, fuma muita maconha (risos). Claro, é uma brincadeira. Ele gosta muito de passar o tempo nessas paisagens tranquilas, como Parque do Povo, Ibirapuera. Não é muito comum a jogadores, eu sei – disse Gero.

– Se tem alguns dias livres de folga, gosta de alugar uma casa na praia, ficar tranquilo. Fomos ao Aquário de São Paulo, muito lindo. Queremos caminhar na Paulista um dia. Enfim, ele está muito feliz aqui, muito feliz – acrescentou o primo-irmão do volante.

Dentro de campo, Gabi Neves vem se consolidado como titular de Dorival Júnior e constantemente recebe elogios de torcedores. Um dos pontos mais citados está na inteligência, com passes de primeira e organização do setor de meio-campo.

Fora das quatro linhas, Gabriel gosta de ler e desde pequeno é tratado como alguém “acima da média”.

– Estou há quase dez anos no Nacional. Quando cheguei, Gabi estava com 16 anos. Ele é um garoto com característica cultural talvez acima da média, pelo menos aqui no Uruguai, e creio que no Brasil também – avaliou Sebastian Taramasco, antigo chefe da base e atual gerente-esportivo do Nacional.

Foi pelo Nacional, equipe do coração, que Gabriel Neves deixou a tranquilidade de Maldonado para viver em Montevidéu. A distância não o desassociou das raízes litorâneas e da tranquilidade aprendida desde berço.

– Ele tem um nível intelectual alto e veio fazer sua formação. Temos um convênio com um colégio privado (Colegio-Licel Pallotti), e ele fez todo o período pré-universitário. Não se dedicava seriamente só ao futebol, fez tudo com muita dedicação – acrescentou Taramasco.

– Gabriel é reservado e introvertido, mas isso não elimina a possibilidade de ele ser um líder. Ele é um líder intelectual, entende o jogo como poucos. Ele entende o jogo como um meio-campista tem que entender – complementou quem testemunhou o crescimento de Gabi Neves desde cedo.

O bigode citado no início deste texto torna Gabi Neves inconfundível para a torcida do São Paulo. Durante os passeios pela capital, tirar foto e ser tietado é algo corriqueiro, mas que não interfere no comportamento durante esses momentos, garantem pessoas próximas.

– Gabi é um jogador de futebol, mas uma pessoa normal. Ele é famoso por jogar no São Paulo e reconhecem muito, mas ele quer ser uma pessoa normal, o mais normal possível – falou Gero Perdomo.

– Ele gosta deste trato, gosta do contato com o torcedor. Ele se sente muito grato com o apoio, com quem o acompanha. Ele valoriza muito quando sai aplaudido. Tratar bem o torcedor é uma forma de retribuição a esse carinho – complementou.

A família é algo sempre valorizado pelo são-paulino. Gabi possui uma relação muito sólida com os pais, primos e parentes no Uruguai.

Quem acompanha as redes sociais do volante, peculiares para um jogador da elite brasileira, vê esses registros. Estar próximo é uma opção desde sempre, até pela saída precoce para a capital uruguaia no início da carreira no Nacional.

– É um garoto com muitos valores relacionados a sua família. Além da família, ele possui um grupo compacto de amizades. Ele tem uma relação estreita com a família, como filho e irmão sempre se cerca, sempre se preocupava desde jovem – relatou Taramasco.

A família acompanha com proximidade a boa fase atual, mesmo a quilômetros de distância. De boina e bigode, o uruguaio tenta se consolidar como um diferente para o torcedor são-paulino.

Fonte: GE