Goleiros se unem contra nova regra de pênaltis: 90% dos chutes viram gol

Engessados numa regra pesada e numa disputa desigual contra batedores. A 11 metros de distância, eles precisam evitar o gol, bem comportadinhos, entre 7,3 metros de raio e 2,4 metros até a trave para cima. É um resumo do que passam os goleiros diante da atualização da regra em disputa de pênaltis. De acordo com o novo texto da IFAB – a associação internacional da Fifa que regula as leis no campo de jogo -, o goleiro não pode “se comportar de forma a distrair injustamente o cobrador”.

A alteração provocou reações diversas entre os goleiros. A mudança tem muito a ver com o goleiro campeão do mundo, Emiliano “Dibu” Martinez, que provocava, dançava e esbanjava confiança. No Brasil, a esmagadora maioria dos goleiros lamentou a regra.

Curiosamente, alguns preferiram não se manifestar publicamente – temerosos de qualquer tipo de retaliação -, mas os poucos que deram entrevista ao ge foram enfáticos, como já havia sido Gabriel, goleiro do Coritiba:

– Eu até perguntei: “cara, eu não posso me movimentar?” “Não, você não pode tirar a atenção do atacante, não pode…” Daqui a pouco vão engessar o goleiro e falar para o cara bater – ironizou Gabriel, do Coritiba, ao GE.

Ele sofreu gol de pênalti na primeira rodada, no Maracanã, na derrota para o Flamengo por 3 a 0, num duelo particular contra Gabigol, um especialista com aproveitamento altíssimo em toda a carreira. Mas a mudança já faz efeito nesta disputa, muitas vezes mental, entre o batedor e o goleiro.

Santos, do Flamengo, Fábio, do Fluminense, Everson, do Atlético-MG, e Rafael, do São Paulo, cada um ao seu estilo, também protestaram sobre a mudança de regra.

– Eu não vejo uma regra para o batedor, só para os goleiros – resumiu o goleiro do São Paulo.

Rafael considerou haver muito rigor e exagero na alteração – “daqui a pouco o goleiro não vai poder fazer mais nada”:

– Não tem nenhuma norma falando que o batedor não pode vir devagar, fazer paradinha… Na verdade, são só regras que atrapalham o goleiro o tempo inteiro.

– Ali é um jogo mental. Eu acho que tem que ser realmente dentro de um limite, não pode retardar o jogo, mas também acho que a gente não pode ficar calado numa situação de só ficar parado. Acho que vale essa provocação, esse jogo mental. É do jogo, é do esporte, achei que foi muito pesada essa nova regra, porque acaba limitando muito as ações dos goleiros – comentou o jogador do São Paulo.

Goleiro mais velho em atividade na Série A, Fábio, de 42 anos, especialista em defesa de pênaltis, lembrou a evolução da posição, mesmo lamentando também a mudança.

– Tinha que facilitar mais, sempre dificulta né (risos). Não tem nenhuma regra que ajuda aos goleiros ter mera facilidade nas cobranças. Sempre a adversidade é cada vez maior – comentou.

– Mas acho que é pela evolução da posição, por isso também é algo positivo. Os goleiros estão se dedicando, a preparação de goleiros também, aí cada vez mais dificulta, cada vez mais se tem maior envergadura, agilidade, pelo trabalho, pelo biotipo de cada um. Infelizmente ficou mais difícil. Mas nunca é fácil para os goleiros. É matar um leão todo dia. Mas agora aumentou mais o tamanho desse leão – brincou o goleiro do Fluminense.

O GE procurou a comissão de arbitragem da CBF sobre as recomendações, mas não teve retorno. Consultamos todos os goleiros da Série A, 14 responderam, 11 disseram que não concordam com a nova regra, dois preferiram não se manifestar e um considerou que a mudança é indiferente.

Fonte: GE