Calleri exalta união do elenco são-paulino: ‘Não tem malandro’

Calleri deixou o São Paulo, em 2016, após seis meses intensos com a camisa do clube. Não venceu títulos, mas o perfil aguerrido e os gols o tornaram querido pela torcida, que ouviu a promessa de que ele um dia voltaria. Promessa que era cobrada a cada janela de transferências até se concretizar, enfim, em 2021.

Nesse período, o atacante circulou por clubes do segundo escalão europeu, sem sucesso. Voltou ao Morumbi com status de ídolo, ao menos para os milhares de torcedores que todo jogo cantam a música que ele se recusa a repetir: “Ô, toca no Calleri que é gol”.

– Essa eu só vou cantar quando eu sair – disse Calleri em entrevista exclusiva à Globo na última sexta-feira.

Os dois títulos recentes, da Copa do Brasil – em que fez o gol da vitória sobre o Flamengo no jogo de ida, no Rio – e da Supercopa, ambos inéditos ao clube, não foram suficientes para que o argentino admitisse sua condição de ídolo tricolor, mas ele sabe que no futuro, aposentado, será reconhecido pelas conquistas.

Ao citar Rogério Ceni e Raí, que empilharam taças pelo São Paulo, indica que para se colocar em prateleira semelhante ainda faltam conquistas. Títulos que ele diz que esse atual elenco voltará a celebrar.

– Nós nos defendemos como irmãos – afirmou, sobre a relação entre os jogadores.

Na entrevista, Calleri contou sobre o impacto sofrido pela derrota para o Independiente del Valle na final da Copa Sul-Americana, em 2022, como amigos o reergueram, e a sobre a certeza que o São Paulo seria campeão da Supercopa se o rival na decisão fosse o Palmeiras.

Veja como foi o bate-papo com o atacante são-paulino:

ge: São Paulo é uma casa para você?

Calleri: Sempre falo a mesma coisa: desde que cheguei ao clube, oito anos atrás, senti como se fosse minha casa. Sei que não sou brasileiro, de Cotia, mas senti como uma família, me acolheram nos piores momentos, passei momentos muito ruins aqui. E fiquei só cinco meses. Sempre fui profissional, tentei dar o melhor em campo, e me respeitaram nos piores momentos. Sempre temos que ter gratidão a quem te dá tudo. Falei que o dia que voltasse ao Brasil, ia vestir a camisa do São Paulo, fosse quem me procurasse, e cumpri minha palavra. Fiz minha melhor temporada em 2022, fiz uma boa pré-temporada, com um grande treinador. Foi meu melhor ano, mas no momento da final (da Copa Sul-Americana) eu errei. Fui muito criticado, cobrado por isso também. Em 2023 foi diferente. Não fiz o ano que queria, machuquei demais, no quinto jogo tinha uma lesão no tornozelo. Mas tudo deu certo, na final (da Copa do Brasil) me redimi. Eu havia errado na final de 2022, mas na de 2023 acho que fiz dois bons jogos, fiz o gol no Maracanã, e vencemos a Copa do Brasil. Quando não tem títulos, dizem que “faz gols e não ganha”. Mas quando ganha, muda tudo. Minha vida mudou.

Aquela final de 2022 te machucou muito.

– Claro, era uma final em meu país (o jogo foi em Córdoba), com toda a minha gente. Em um estádio em que eu já tinha sido campeão pelo Boca. Tinha tudo para ganhar. Não deu. Como todo mundo, eu errei. Todo mundo errou. Não consigo ver os lances, o jogo. Não lembro do que aconteceu depois do 2 a 0. Apaguei da mente. Machucou porque eu tomo o São Paulo como minha casa no Brasil, e todo mundo que cantava meu nome dois meses antes, foi quem me criticou demais, que colocou nas minhas costas a derrota na final. Mas como jogador do clube, capitão, que se identifica com o clube, sinto essa pressão, e em 2023 tudo mudou. A gente conseguiu passar de dois rivais (Palmeiras e Corinthians) e ganhar do melhor time da América (Flamengo, na Copa do Brasil). O dia que eu voltar aqui em dez anos, não como jogador, com minha família, vou ter o quadro na parede, vou lembrar que venci a primeira Copa do Brasil com o São Paulo.

Agora com dois títulos conquistados, sente-se um ídolo?

– Eu sempre falo que um clube tem poucos ídolos. Rogério, Raí. Gente que conseguiu ganhar muitos títulos. O torcedor, e eu não sou do Brasil, não conheço toda a história do clube, mas tento entender o que essa gente sente. O clube passou dez anos carentes de jogadores que se identificavam. E começaram a se identificar comigo. As coisas aconteceram bem. Fiquei primeiro seis meses, prometi que ia voltar, voltei. Em 2022, melhor ano, fiz as coisas bem, perdi a final, me levantei. Em 2023, me machuquei, saí campeão. Acho que hoje eu não me considero ídolo, mas considero que minha imagem mudou depois da Copa do Brasil. A torcida se identifica muito com o grupo de jogadores. Esse é um começo para mais títulos que vão vir. Esses dois títulos não serão os únicos. Vamos brigar pela Libertadores, novamente pela Copa do Brasil, temos que brigar pelo Brasileiro. Hoje sou um jogador mais experiente, com quase 200 jogos com a camisa do São Paulo, estou aqui há três anos. Os caras com quem a torcida mais se identifica, como Luciano, Arboleda, Rafinha… dentro de dez anos a torcida vai lembrar que foram os primeiros a ganhar a Copa do Brasil 2022.

Teve dificuldades na Europa, mas se adaptou bem ao São Paulo? Quais as diferenças?

– As relações de trabalho são muito diferentes. (Na Inglaterra) Era bom dia, boa noite, e cada vai embora. Só aqui, na América do Sul, a gente tem mais relação pessoal. São caras que me perguntam da família, como estou aqui. Por isso minha adaptação aqui foi diferente. Quando comecei a entender inglês, tive que ir embora. Aqui a gente se sente mais família, a relação não é só de trabalho, é pessoal. Nosso grupo aqui é muito bom, a gente fala de tudo. Passamos três horas tomando café na concentração e contando histórias. Gosto de escutar caras mais experientes como Luiz Gustavo, James, Rafinha, que falam o que aconteceu na vida deles. Eu acho que o melhor do São Paulo é que nosso grupo atira tudo para o mesmo lugar. Não tem malandro, gente má. Todo mundo tem discussões, mas quando acaba o treino, no refeitório ou nas concentrações, ficamos falando da vida de cada um. E dentro de campo a gente se defende como irmãos. Nos defendemos como irmãos.

Fonte: GE