Ceni repete a 1ª passagem: vexames em campo e brigas com jogadores
O São Paulo em crise com Rogério Ceni tendo um atrito que se tornou público com um jogador do elenco. O que está acontecendo em 2023 pode ser um “déjà Vu” do que foi visto na outra passagem do ex-goleiro como técnico do clube, em 2017, logo na sua primeira experiência à beira do campo na carreira.
Ceni durou cerca de seis meses na sua primeira passagem, também marcada por eliminações decepcionantes e crise interna. Na ocasião, o São Paulo caiu para o Corinthians na semifinal do Campeonato Paulista, com uma derrota e um empate. Mas o jogo no Morumbi foi marcado pelo episódio do “fair play” de Rodrigo Caio.
O zagueiro assumiu para o árbitro na partida que foi ele quem havia pisado sem querer na perna do goleiro Renan Ribeiro em uma dividida. O juiz, erradamente, havia dado falta e cartão amarelo para Jô, o que deixaria o corintiano suspenso. O episódio rendeu bronca de Ceni a Rodrigo Caio nos vestiários.
“Talvez Rodrigo Caio e Tite sejam pessoas melhores do que eu”, disse Ceni, em coletiva naquela noite no Morumbi, mostrando ter reprovado o feito de seu atleta, à época convocado com frequência pelo técnico da seleção brasileira.
Não foi apenas o caso Rodrigo Caio que abalou internamente Rogério Ceni. Houve, por exemplo, o incidente da prancheta com Cícero – o São Paulo perdia para o Corinthians por 2 a 0 na ida das semifinais do Campeonato Paulista, Ceni dava uma bronca em seus atletas e jogou uma prancheta no chão. O objeto, porém, acabou acertando o meio-campista, que se irritou bastante. O técnico se desculpou imediatamente, e a “turma do deixa-disso” entrou em ação para evitar qualquer problema maior.
Além disso, a saída de Neilton tirou parte da confiança dos atletas em seu trabalho. O atacante treinou como titular para o duelo contra o Defensa y Justicia na CONMEBOL Sudamericana, atuou por 45 minutos, foi substituído e nunca mais jogou com a camisa tricolor.
Eliminado na primeira fase da Sul-Americana, na quarta fase da Copa do Brasil e na semifinal do Paulista, além de passar seis jogos seguidos sem vencer e na zona de rebaixamento do Brasileirão, Ceni foi demitido do São Paulo em 2017 pelo então presidente Leco.
Na primeira passagem, foram 35 jogos, com 14 vitórias, 11 empates e 10 derrotas. O seu São Paulo marcou 55 gols e sofreu 42.
Ceni chegou ao São Paulo novamente em outubro de 2021 com a missão de livrar o time do rebaixamento, algo que foi conseguido apenas na penúltima rodada do Brasileirão. Durante esses 13 jogos, foram diversas coletivas com desânimo e sem certeza de que o técnico permaneceria para o ano seguinte, visto a situação financeira delicada do clube. Apesar de um áudio vazado por Muricy Ramalho ter indicado essa dúvida, ambos acabaram ficando para 2022.
Sem as contratações que gostaria, de pontas rápidos, Rogério Ceni foi obrigado a abrir mão de seu esquema favorito em 2022. O ano começou bem, com o time abrindo 3 a 1 na final do Paulistão contra o Palmeiras, mas sendo trucidado por 4 a 0 na volta. Ceni com frequência criticava abertamente a diretoria e o clube em geral em suas coletivas, inclusive no episódio em que revelou que não tinha água na piscina do CT.
Após mais um susto contra o rebaixamento, o ano terminou com outro vice decepcionante, desta vez na Sul-Americana. E 2022 também foi cheio de atritos com o elenco, com críticas abertas ao volante Luan e suas atitudes enquanto se recuperava de uma lesão na coxa, além da discussão com Patrick nos vestiários da derrota para o Fluminense, que resultou no meia pedindo para sair do tricolor.
E a parte final do ano também foi marcada pelas inúmeras insinuações de que talvez não fosse ficar para 2023, apesar de ter renovado seu contrato ainda no meio do ano.
Novamente, Ceni acabou ficando, o elenco foi completamente reformulado para agradar as características que mais o agradavam, incluindo pedidos dele como o meia-atacante David. E 2023 trouxe um antigo problema do clube que acabou amplificado: a quantidade absurda de lesões, que forçaram Ceni a quase nunca escalar o time que desejava, mas ao mesmo tempo quase que o obrigando a colocar atletas que ele abertamente criticava em coletivas mesmo quando iam bem. Casos de Galoppo, artilheiro do time até romper os ligamentos do joelho, e Luan, que vive um impasse na sua renovação.
Fora isso, Ceni ainda tem o desfalque de Pedrinho, um dos seus pedidos para 2023, acusado de agressão pela sua ex-namorada.
A cobrança de Rogério Ceni a Marcos Paulo marcou o treino de quarta-feira (15) no São Paulo, na reapresentação do time após a eliminação do Campeonato Paulista. O fato gerou reações diferentes no elenco, entre quem se incomodou com o tom do técnico e quem viu como normal.
A conversa da reportagem da ESPN com um dos jogadores do elenco tricolor ajuda a entender o termômetro nos bastidores após o episódio. Há o reconhecimento de que Rogério exagerou, mas, ao mesmo tempo, existe a percepção de que o tom mais forte é natural após a queda diante do Água Santa.
“Se não tiver cobrança depois de uma eliminação para o Água Santa… Pau tem que quebrar mesmo”, disse uma fonte, que reconheceu incômodo em parte dos jogadores no que foi citado como “exagero” de Ceni. A cobrança, porém, foi encarada como normal pelo contexto pós-queda.
A reunião foi motivada por algumas ações de Marcos Paulo, que não tem atuado, nas redes sociais. O atacante curtiu postagens com críticas a Ceni e publicou foto com a frase: “hipocrisia e simpatia é uma junção venenosa”, que é o trecho de uma música de funk dos MCs Kevin e Hariel.
O tom do técnico, segundo apurou a reportagem, foi bastante forte. Ele se irritou com as postagens, e Marcos Paulo, que fez cinco jogos no Paulista, nenhum como titular, deu sua versão aos presentes.
Fato é que a cobrança piorou um clima que já era pesado, já que se tratava da primeira atividade depois da derrota nos pênaltis nas quartas de final do Paulista diante do Água Santa, no Allianz Parque. Marcos Paulo, porém, treinou normalmente com os companheiros que não jogaram tantos minutos na segunda.
Antes da cobrança ao atacante, uma das percepções que a diretoria tricolor tinha sobre Ceni era de que ele havia melhorado o dia a dia no clube não só com o elenco, mas com todos no CT da Barra Funda.
Direção e treinador tiveram uma conversa nesse sentido depois de uma entrevista coletiva de Ceni após o São Paulo vencer o clássico contra o Santos no Morumbi. Apesar do triunfo, o técnico foi duro nas palavras, mas, depois desse episódio, mudou sensivelmente essa postura.
A diretoria de Carlos Belmonte e o presidente Julio Casares bancam Ceni, mas durante a pausa após a vexatória eliminação no Paulista até o começo das outras competições, Ceni tentará trazer resultados e amenizar o clima nos vestiários depois dos problemas recentes. E isso provavelmente ainda com o DM cheio.
Até aqui na segunda passagem como técnico, são 102 jogos, com 47 vitórias, 27 empates e 28 derrotas.
Fonte: ESPN