Mesmo que não seja campeão, SPFC ficou mais forte com o Paulistão

O São Paulo pode vir a ganhar o Campeonato Paulista ou ser eliminado na semifinal, mas já é possível ter uma certeza: construiu algo importante para o restante da temporada. O time evoluiu, vai consolidando o modelo de jogo de Rogério Ceni, e viu jogadores jovens se afirmarem. Rodrigo Nestor já é um processo iniciado na temporada passada, mas Pablo Maia é a grande notícia deste começo de 2022.

É simbólico que tenha sido do volante o grande chute que virou o difícil jogo com o São Bernardo. Assim como foi dele o passe para Calleri fechar o placar. É destes meio-campistas raros, capazes de iniciar jogadas com boa distribuição e buscarem passes perto da área adversária. Além, é claro, de chutarem a gol.

É inevitável o paralelo com 2021. Claro que soa injusta a comparação num momento em que o desfecho da história vivida no ano passado já é conhecido. Mas, na ocasião, em nome de interromper o jejum de títulos, o clube ignorou o fato de que a temporada começava sem pausa após o fim das disputas de 2020, levou seu elenco ao limite físico e mental, apostou tudo na conquista do Paulista, tratado como “Copa do Mundo” . Um preço foi pago no Brasileiro. A sensação é de que, campeão ou não, o que o São Paulo constrói hoje é mais sólido. O time cresceu, sem aparentemente ter sacrificado o restante do ano. Ao contrário.

Se há uma característica dos times de Rogério Ceni é a existência de padrões reconhecíveis. E, ao longo do Paulista, ele rodou jogadores, administrou minutos e pernas, mesmo que ao preço de sustentar a pressão insana após uma largada naturalmente instável em desempenho e resultados. Aos poucos, firmou o 4-1-3-2, fez crescer um time que por vezes ainda sofre para criar contra defesas fechadas e aprimorou o funcionamento. Desta vez, parece mais real a possibilidade de que o Estadual dê ao São Paulo, com ou sem taça, uma base de trabalho para a temporada.

Constatar que o tricolor melhorou não significa colocá-lo na prateleira dos maiores candidatos ao título, dos clubes que mais investem no país, das maiores potências econômicas. O clube vive outra realidade.

E o jogo com o São Bernardo teve momentos difíceis. Os 30 minutos iniciais não foram de um São Paulo confortável, porque o time tinha dificuldade de se adaptar ao desafio que o rival propunha.

O São Bernardo defendia com uma linha de cinco homens. Davó, o centroavante, tentava evitar que a bola chegasse a Pablo Maia quando o São Paulo iniciava a construção. E um de seus pontas, de acordo com o lado que os donos da casa escolhessem para sair jogando, pressionava o zagueiro que tinha a bola. Com isso, induzia o São Paulo a iniciar as jogadas pelos lados, onde Rafinha e Reinaldo eram pressionados.

O 4-1-3-2 de Ceni costuma fazer os três meias que jogam por trás dos atacantes atuarem mais pelo centro. Ao buscar as jogadas por ali, o São Paulo acumulava perdas e permitia contragolpes. Mas foi num desarme sofrido por Reinaldo, já no segundo tempo e justamente na armadilha proposta pelo São Bernardo, que o placar foi aberto.

O São Paulo teve meia hora de jogo abaixo do desejável. Parecia sentir a falta de Gabriel Sara como um dos meias entre as linhas rivais. Ainda assim, já terminara melhor a primeira etapa, criando chances contra uma defesa bem fechada, uma dificuldade do time no início da temporada. Éder, recebendo de costas para o gol, criou duas boas chances em toques rápidos para Luciano atacar a profundidade.

O gol dos visitantes trouxe tensão ao cenário do Morumbi, mas aí as circunstâncias favoreceram. De tanto bater contra o muro, o tricolor foi encontrar um gol num raro momento em que pôde ter algum espaço. O goleiro Alex Alves tentou uma reposição de bola com um chute longo e, como defendem alguns pensadores do jogo, a bola que vai rapidamente também volta rapidamente. E Rodrigo Nestor recebeu de Calleri para empatar.

Antes do empate, Ceni havia tirado Reinaldo para dar lugar ao bom Wellington na esquerda. Calleri fora opção na vaga de Éder, dando uma opção diferente de ataque, enquanto Rigoni substituiu o instável Igor Gomes. As trocas surtiram efeito, mas também o contexto do jogo. Dois minutos após o 1 a 1, Paulinho Mocelin foi expulso e o domínio do São Paulo ficou grande demais. Ainda assim, o gol da virada só veio a nove minutos do fim, com o chute de Pablo Maia. Com espaço, a vitória virou goleada.

Campeão ou não, o Estadual serviu para fazer o São Paulo evoluir.

Fonte: Coluna do Carlos Eduardo Mansur / GE